Nelson Felix: Trilha para 2 lugares e trilha para 2 lugares


O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro recebe “Trilha para 2 lugares e trilha para 2 lugares”, um trabalho inédito de Nelson Felix – a quarta e última obra da série “O Método Poético para Descontrole de Localidade”, iniciada em 1984. A obra exposta no MAM reúne a vivência do artista em dois locais distintos: Citera, uma ilha na Grécia, e a Cidade de Santa Rosa, no pampa argentino.
A instalação conta com três monitores, os quais exibem diferentes vídeos do artista em cada um dos locais. A estrutura de edição das imagens - feitas por Guilherme Begué e Cristiano Burlan - que ora se duplicam, ora se alternam nos monitores, assemelha-se a uma composição musical para três instrumentos. Além disso, a transmissão ocorre em uma pequena sala fechada e completamente forrada por espuma, o que proporciona além do relaxamento, uma maior possibilidade de se conectar com a obra. A subversão causada pela instalação permite ao público a sensação de estar presente junto ao artista em sua experiência de caminhada. Os estímulos sonoros e visuais auxiliam nesse efeito.
Somando-se à instalação, um cabo de aço de 270 metros de comprimento – 35 metros estirados a 60 centímetros do chão e o restante tensionado em volta de pilastras do Museu - representa a ligação entre as cidades e também emite um som que é captado e amplificado. Caixas de som reproduzem o ruído emitido pela tensão do cabo de aço, que, junto ao som ambiente dos vídeos, constitui a sua trilha sonora.
Ao longo dos vídeos, o artista aparece como uma figura solitária. Ele come sozinho, observa o mar que vai e vem, caminha em uma direção desconhecida para o público, dentre outras ações. Posteriormente, tem-se sua imagem caminhando por rochedos próximos ao mar. A câmera distanciada nos infere uma sensação de isolamento e vastidão. Em sua representação, Nelson Felix parece uma espécie de Zaratustra, que busca no isolamento inspiração e sabedoria. A contemplação de elementos naturais e a exploração do local são marcas fortes dos vídeos. Isso provavelmente se dá devido ao acaso da escolha dos locais, que torna a obra um processo de descobertas.


Assim, se configura Trilha para 2 lugares e Trilha para 2 lugares. 

A série “O Método Poético para Descontrole de Localidade” sempre teve na poesia seu ponto de partida. No trabalho apresentado no MAM Rio, foi a obra do poeta francês Mallarmé (1842-1898), principalmente seu poema “Um lance de dado jamais abolirá o acaso’”, que determinou o início do processo. Nelson Felix lançou sobre um mapa-múndi um dado com o número seis em todas as faces, em data e hora estabelecidas, e em local incidental do curso de uma estrada. Daí surgiram os dois locais-eixo do trabalho: Citera (ilha grega) e Santa Rosa (pampa argentino).  Em Citera, lançou o dado ao mar, em Santa Rosa, o enterrou.

Grupo: Beatriz Almeida, Larissa Rios, Rennan Caldas, Roberta Oliveira e Thays de Oliveira

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