Artur Barrio
Artur Barrio (Porto, Portugal, 1945) é um artista plástico e desenhista luso-brasileiro. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1955, começou a dedicar-se à pintura em 1965 e ingressou na Escola de Belas Artes em 1967. Foi um dos primeiros artistas no mundo a realizar obras com gigantescas instalações e composições caóticas, onde múltiplos elementos são misturados. Sua criação tem como foco a arte conceitual, performances, e a valorização da experiência em detrimento da imagem ou do objeto. Uma das principais características de seus trabalhos é a utilização de materiais efémeros e precários, como o sal, o papel higiênico, o sangue, o pó de café, o pão e a carne. Em 1969, Barrio escreve um manifesto a fim de contestar e refutar as “categorias tradicionais da arte” e protestar contra o cenário sociopolítico dos países de Terceiro Mundo. No mesmo ano, o artista começa a criar as Situações: trabalhos de grande impacto, realizados com materiais orgânicos como lixo, papel higiênico, detritos humanos e carne, com os quais realiza intervenções no espaço urbano.
O trabalho Trouxas Ensanguentadas - parte de Situações - foi produzido em um período conturbado da história política brasileira, em 1970, quando a censura aos meios de comunicação estabelecida pelo AI-5 interferia diretamente na manifestação artística. Tal obra tratava-se de uma intervenção na qual o artista jogava trouxas de pano, preenchidas com material orgânico e dejetos, cortadas a golpes de faca, em terrenos baldios no Rio de Janeiro e.no principal rio de Belo Horizonte, o Ribeirão das Arrudas. O artista inseriu na trouxa, também, um pedaço de carne de onde saía sangue, simulando, desse modo, corpos ensanguentados. A ação tem forte apelo político, e teve como principal objetivo desmascarar a prática de “desovamento” de corpos de indivíduos que foram mortos pelo regime militar e por grupos de extermínio.
Barrio monta, muitas vezes, as situações longe dos olhos de espectadores e documenta essas intervenções por meio de filmes em Super-8, fotografia, cadernos e livros - que posteriormente atingem o público e passam a compor o portfólio do artista.
Após retornar a Portugal em 1974 e presenciar a Revolução dos Cravos, Barrio segue com sua série de situações e realiza algumas obras como Movimentos e Pedras e a escultura Metal/Sebo Frio/Calor. O artista também expõe alguns de seus desenhos no Rio de Janeiro, São Paulo e na Islândia nesse mesmo ano. Em 1975, após mudar-se para Paris, Artur tem suas obras adquiridas pelo Centre Georges Pompidou - que, em 1982, viria a expor pela primeira vez o conjunto de quadros e desenhos Série Africana, sendo este o retorno do artista à trabalhos com pintura e cor.
Metal/Sebo Frio/Calor (1974)
De 1978-1979, expôs uma de suas obras mais conhecidas, Livro de carne, que nada mais era que um pedaço de carne talhado em forma de livro. Por ser feito a partir de um material perecível, o livro de carne se decompunha em três dias e, desse modo, nenhum espectador via a mesma exposição ou o mesmo livro. O objetivo de Barrio era, através da putrefação da carne e da concepção de tempo, deslocar o conceito de vida para fora da razão, incentivando, assim, um debate acerca do “trabalhar para viver” e da monetarização do tempo.
‘’A leitura deste livro é feita a partir do corte/ação da faca do açougueiro na carne com o consequente seccionamento das fibras/fissuras, etc, etc, assim como as diferentes tonalidades, colorações. Para terminar, é preciso não esquecer das temperaturas, do contato sensorial (dos dedos), dos problemas sociais, etc etc’’ (BARRIO, 1979)
Livro de carne (1977)
Em 1987, ao apresentar a Experiência nº 1 no Rio de Janeiro, o artista dá início a uma outra série de trabalhos - visando, dessa vez, intervir diretamente no espaço físico das galerias de arte, pendurando objetos e rabiscando, sulcando e furando as paredes.
Experiência nº 1 (1987)
Em 1996, como forma de homenageá-lo, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro fez uma retrospectiva de sua obra, com registros diversos das Situações.
Grupo
Nina Mouta, Bárbara Mendonça, Joana Dupre e Luana Carmelina.
Bibliografia
http://memoriasdaditadura.org.br/obras/trouxas-ensanguentadas-1970-de-artur-barrio/
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