Queria outro título, mas vai ser Nelson Félix mesmo...



A exposição de Nelson Felix "Trilha para 2 lugares e trilha para 2 lugares" é a quarta e última obra da série "Método Poético para descontrole de localidade", iniciada em 1984. O método consiste no pensamento poético sobre os ambientes; serviu de base para o encontro dos vários espaços "experimentados" pelo artista.

Todas as quatro obras carregam no nome uma ambiguidade (4 cantos,Verso e Um canto para onde não há canto), trazendo interpretação ora espacial, ora poética, além disso elas utilizam o local de exibição como instrumento da obra. O Museu de Arte Moderna, onde encontra-se a quarta produção, teve seu espaço detalhadamente pensado pelo artista, o qual, ao trazer o tema "trilhas",cuidou para que o lugar ficasse amplo e para que a corda remetesse ao som.  


Desde a primeira obra o artista se envolve de tal forma que parece mais importar o sentimentalismo e as meditações no processo de criação que a própria exposição. É evidente que uma percepção mais profunda é impossível se somente a “obra final” for levada em conta. O processo é a própria obra.


GB: Dentro da instalação de Nelson Felix existem três telas que promovem a junção de três lugares conosco, que estávamos lá dentro. O material e a iluminação da instalação criam um ambiente imerso que acolhe rapidamente quem entra, fazendo com que desenvolvamos a sensação de estarmos em uma caixa. Quando eu entrei, eu só queria ser engolida pela espuma do “chão” e ficar deitada por lá para sempre. Ainda estou considerando contratar o Nelson para fazer aquilo com o meu quarto. A disposição das telas também chamou minha atenção por estarem na parte mais baixa da caixa. Essa posição quebra com o costume contemporâneo de termos sempre as telas em lugares altos.
Nas telas da instalação, eu observei muito os elementos presentes nos vídeos. Como ficamos apenas por alguns minutos lá dentro, eu não consegui relacionar todos os clipes, mas nesses mesmos minutos foi possível ver forte presença de elementos naturais. 
Na primeira tela, via-se o artista em um grande morro com vista para o mar. O elemento que mais me chamou atenção foi o vento, que, numa imagem quase que estática, fazia dançar a vegetação do local. 
Na segunda tela, havia uma praia em um dia cinzento, Nelson se encontrava perto do mar, enquanto as ondas iam e vinham. O elemento presente era a água, mas não tanto por causa do mar em si, mas por causa das gotas da chuva que caiam na lente e incorporavam a filmagem.
Por fim, observei na terceira tela o elemento da luz do sol. O vídeo da tela mostrava ora o artista dirigindo com o sol baixo invadindo a janela do carro, ora um grande descampado com plantas e lama, por onde o artista transitava. O sol fulgurava e capturava o foco da câmera, fazendo com que o contraste entre sua luz e o artista fosse grande.
A corda externa completa a instalação-caixa por relacionar os sons dos vídeos com o seu próprio, criando um elo entre todos os elementos artísticos da obra.


LP: Os 5 minutos passados dentro da sala, macia do chão ao teto, me trouxeram paz e vontade de viajar. Já o desalinhamento das televisões e as gotas na câmera da tela do meio tiveram um efeito negativo, uma necessidade inicial de arrumar. Mas ela logo passou, porque o conforto físico e sonoro falavam mais alto. Obrigada Nelson Felix, não sei se essa era a intenção mas agora quero subir num morro, sentar e desenhar ouvindo o barulho do mar e do vento.



LM: Com uma proposta bem diferente, eu achei a exposição do artista Nelson Félix muito interessante. O ambiente que a pequena sala revestida de espuma propicia é extremamente relaxante e confortável, e fez com que eu pudesse facilmente abstrair do resto e voltar minha atenção somente para a vibração constante e para as belas imagens nos três vídeos passando nas televisões dali. Uma exposição completamente distinta das que eu tinha ido, mas que certamente me tocou.

MC: Na última obra, da série “Método poético para descontrole de localidade”, que completa o quarto canto, o artista nos convida a meditar como ele. Depois de entrar em transe nos desenhos compulsivos, no viajar a todo canto, nas referências como bengalas e nos contrastes das perspectivas, Nélson Félix une os quatro cantos das obras anteriores pelo estiramento da corda e fisicamente monta uma caixa que, além de possuir os quatro cantos, também remete ao dado de Mallarmé. O título da obra, “Trilha para dois lugares e trilha para dois lugares”, correlaciona-se tanto com os lugares mostrados pelas telas no interior da caixa quanto com a sonoridade atribuída por ele para as localidades. O efeito do som provocado pela corda impressiona e faz sentido com as três paisagens. Portando, depois de viajar de Portugal à São Paulo, Félix reúne três obras em uma. Um único lugar construído a partir dos fundamentos de toda a série, uma caixa agindo como casa térrea e sintetizando a procura da arte que reflete o inteiro estar terrestre, como dita o poema, que julgo central, “A casa térrea”. Todavia, não sei o que pensar em relação ao lance de dados. “Um lance de dados jamais abolirá o acaso” ecoa na minha mente, mas não me diz muito. A única relação possível de ser vista é a multiplicidade de interpretações diante de performances que constituem toda série. Por fim, apesar de toda a consagração, não sei se “Método... é muito complexo ou muito vago e subjetivo. Embora seja possível extrair muitas interpretações, a última obra carece de propósito e não funciona independentemente,ou seja, precisa se apoiar inteiramente nas obras anteriores e dialogar constantemente com os poemas-bengalas.


Gabriela Benevides, Laura Pedroso, Lucas Mathias, Morenna Caldas, Sabrina Chagas

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