Comentário sobre a obra 'Trilha para 2 lugares e trilha para dois lugares'

A obra 'Trilha para 2 lugares e trilha para dois lugares', do artista plástico Nelson Felix, fecha a sequência de quatro trabalhos da série 'Método poético para descontrole de localidade' (1984-2017). Explorando o sensível, a peça artística propõe  uma completa experiencia sensorial – ambiente, áudio e vídeo relacionam-se intimamente, transportando o espectador para os ambientes propostos pelo artista 
A criação, em exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro ate 04 de junho de 2017, se inicia com uma imagem pouco usual para o MAC: um de seus salões, ora tão bem adornado, encontra-se vazio. Em uma de suas paredes, encontram-se então dois textos de descrição sobre a obra e seu propósito, um escrito por seus curadores e o outro, em gesto muito generoso para com seu público, escrito pelo próprio Nelson.   
O objeto de arte em si consiste, então, em uma "caixa",  sem quaisquer adornos, localizada no centro do salão. A obra é conectada externamente à um fio de aço, que cruza o salão, quebrando um pouco o clima de sobriedade do espaço. A movimentação  do cabo, esticado em tensão máxima, emite sons que são captados e transmitidos para o ambiente interno da obra, de modo a influir na experiencia individual de experimentação da arte. 
  Ao entrar na caixa, o observador logo é surpreendido pelo primeiro aspecto sensorial da obra – o chão, coberto por uma grossa camada de espuma texturizada, traz um balanço aos primeiros passos e, depois de uma primeira ambientação, um sentimento de conforto, especialmente no momento em que o circunstante se senta. É como se a obra, a partir dali, abraçasse seu público, deixando-o imerso em seu pequeno universo de caixa. Visualmente, os únicos elementos que pontuam o ambiente são três telas, cada uma apresentando uma situação cotidiana diferente: nenhuma das imagens tem fim ou começo, apenas movimentos contínuos.  É aí que entra, então, o efeito sonoro promovido pelo movimento do fio. Sons metálicos e suaves ecoam pelo recinto, criando uma climatização ainda mais envolvente para quem admira a arte. 
Assim, a combinação entre estímulo físico, auditivo e visual  transforma a arte de Nelson Felix em gigantesca potência artística, que tem o poder de acalantar, mas também inquietar. A obra tem capacidade de trazer seu espectador inteiramente para dentro do seu espaço físico, ao mesmo tempo que o transporta para os cenários ali propostos – isso tudo simultaneamente. Por um momento, o imenso MAC fica esquecido e 'Trilha para 2 lugares e trilha para dois lugares' vira um mundo inteiro para seu público. 


Por: José Vicente, Juliana Maciel, Maria Fernanda Delpra, Marina Reginato e Marina Soares. 

Comentários

Postagens mais visitadas