Antônio Manuel
Nascido em 1947, Antonio Manuel da Silva Oliveita (conhecido como Antonio Manuel) é um escultor, pintor, gravador e desenhista português que veio morar no Rio de Janeiro aos 6 anos de idade, onde vive até hoje. Antonio, na década de 60 estudou na Escolinha de Arte do Brasil (EAB), frequentou o ateliê de Ivan Serpa e foi aluno ouvinte da Escola de Belas Artes (EBA), que na época, se chamava Escola Nacional de Belas Artes (Enba).
O artista tem suas primeiras obras relevantes a partir de 1966, com obras feitas em jornais e flans e até hoje se expressa por meio de sua arte, sendo sua últimas exposições (conjuntas) ocorridas em 2016 no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE) e Museu Afro Brasil, ambos em São Paulo.
A partir de 1980, Antonio passou a realizar obras de caráter abstrato-geométrico, explorando as ortogonais e a sensação de labirinto.
Até o ano de 1968, Antonio Manuel se utiliza do flan como fonte de produção e propagação de trabalho. É um termo em francês que diz respeito ao molde que os jornais produzem para imprimir a quantidade de papéis necessária diariamente. Através desse cartão plastificado em relevo, o artista começa a lançar matérias de autoria própria que mais tarde seriam publicadas pelos meios jornalísticos - sempre relacionadas à discussões estéticas, à poesia e à política. Essas matérias eram invenção de Antonio e foram publicadas e distribuídas nas bancas como se fossem autênticas - uma delas foi relacionada à revolução estudantil do mesmo ano (1968).
Os flans eram descarte de qualquer editorial de imprensa, uma vez que cumpriam sua função de ser o layout para as diferentes reportagens do dia. Embora eles não tivessem muita relevância para o jornal, os moldes foram de extrema importância na vida de Antonio Manuel - a partir das pequenas matrizes de matérias o artista desenvolveu habilidades estéticas e manuais em relação ao relevo e ao contraste do preto no branco, já que os flans recolhidos das cestas de dejetos estavam usados previamente pela indústria. Além disso, teve que burlar os desvios físicos do molde para emprestar sentido crítico às suas obras, desenvolvendo autenticidade e personalidade no seu conteúdo de criação.
Após o projeto com matérias de jornais, o artista inicia exposições com objetos e com o corpo, curta-metragens e pinturas que constroem a carreira de Antonio Manuel nos anos seguintes - tornando-se figura importante no cenário artístico sociocultural e político brasileiro.
Participação de Antonio na obra Apocalipopótese
Uma das obras mais renomadas de Antonio, Urnas Quentes, foi exposta em conjunto com grandes nomes do movimento neoconcreto brasileiro, Hélio Oticica e Rogério Duarte, em uma manifestação ao ar livre e grupal nomeada de Apocalipopótese. “Urnas quentes” foi o trabalho apresentado por Antonio no ano de 1968, composto por vinte caixas de madeira as quais deveriam ser abertas a partir da interação do público com a obra. A abertura de tais caixas eram feitas por meio de ações físicas violentas, ato capaz de transparecer simbolicamente o contexto de ditadura militar.
O nome da obra pode ser explicado a partir da conjuntura política da época: “Urnas” vale-se de crítica ao período ditatorial quando os brasileiros não poderiam votar; “Quentes” remete-se à deflagração de informações relevantes no contexto, que deveria ser efetuada com urgência antes que essas, metaforicamente, esfriassem. Ao abrir as caixas, o indivíduo deparava-se com flandres de jornal os quais continham registros de atrocidades praticadas durante o período de ditadura civil-militar.
A obra, portanto, possui um cunho político evidente. Além disso, por permitir um diálogo entre o público e a arte, representa uma manifestação de vanguarda para a época.
Obra “fantasma”
Instalação “fantasma”, de Antonio Manuel
A instalação “fantasma” foi apresentada pela primeira vez em 1994 e reapresentada várias outras vezes no Brasil e no exterior, e foi adquirida pelo Museu de Arte Moderna do Rio em 2001.
A obra é composta por diversos peças de carvão que suspensos por fios de nylon aparentam flutuar. Ao percorrer a instalação, o público está sujeito a ser marcado ao tocar nos pedaços de carvão. No centro da instalação, encontra-se uma fotografia de uma testemunha - cercada de microfones da imprensa - da chacina ocorrida em 1993 na favela Vigário Geral. Desse modo, os carvões servem como uma analogia, já que assim como impactantes acontecimentos os pedaços de carvão na exposição tocam e marcam.
O uso do corpo como ato político
Antonio Manuel teve como principal maneira de expandir sua arte o uso da imagem do corpo. Inicialmente, ele começou a usar corpos em fotografias, tendo a pose parada grande importância no auto-retrato do artista. Suas obras fotográficas retratando corpos gerou grande repercussão na crítica nacional e internacional. Mas não satisfeito em apenas usar o corpo em fotografias, o artista usou o próprio corpo nu no 19º Salão Nacional de Arte Moderna, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. ‘’O corpo é a obra’’ como foi chamada essa obra contou com a presença do artista fazendo inúmeras poses como se fosse uma escultura.
Esse ato foi uma forma de questionar os critérios de seleção e julgamento das obras de arte, sendo assim uma forma de protesto contra o sistema político, social e artístico em vigor, uma vez que esse ato ocorreu após o AI-5, em que grande parte das formas de comunicação artística foram interditadas e havia uma grande censura. ‘’O corpo é a obra’’ gerou ‘’Corpobra’’. ‘’Corpobra’’ é uma caixa de madeira vertical, de aproximadamente 2 metros de altura que contém a ampliação da foto do artista nu no MAM-RJ. Seu pênis contém uma faixa preta, onde deveria estar escrito: Censurado está escrito a palavra corpobra. O restante da obra para baixo é formada por serragem e assim como as cabines foi feita visando criar uma interação com o espectador, contando com uma alavanca na parte de trás que aciona um mecanismo que gera uma nova foto do artista, desta vez totalmente nu. ‘’O corpo é a obra’’ foi recusada pelos jurados. Esta mesma obra foi para Mário Pedrosa, crítico, ‘’o exercício experimental da liberdade’’, e a partir daí o interesse de Antonio concentra-se ainda mais na questão do corpo e seus sentidos.
Bibliografia
http://entrelinhablog.com.br/o-corpo-e-a-obra-ensaio-sobre-a-performance-na-arte/ http://oglobo.globo.com/cultura/artes-visuais/antonio-manuel-berna-reale-andre-komatsu-representarao-brasil-na-56-bienal-de-veneza-14846295
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